SISTEMA DIGESTIVO


Fundamentos Teóricos 

    O sistema digestivo é formado pelo tubo digestivo e as glândulas anexas. A função do sistema digestivo é, principalmente, retirar dos alimentos as moléculas necessárias para a manutenção do organismo. O tubo digestivo pode ser subdividido em: cavidade oral, esôfago, estômago, intestino delgado e grosso, reto e ânus.
    A cavidade oral apresenta mucosa formada por epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado, que repousa sobre uma lâmina própria semelhante à derme, inclusive com papilas dérmicas, ora apoiada sobre uma placa óssea no palato duro (mucoperiósteo), ora contínua com músculo e glândulas. Na cavidade oral observamos um órgão musculoso, a língua. Formada em sua massa por músculo estriado esquelético, é revestida por mucosa, que se diferencia na porção superior, daquela localizada na porção inferior. A mucosa da porção superior da língua apresenta-se revestida por saliências: as papilas linguais. Estas estruturas são, na espécie humana, diferenciadas em papilas filiformes, papilas fungiformes e papilas circunvaladas. As papilas filiformes estão espalhadas em grande número pela mucosa da porção superior da língua, sendo cônicas e alongadas. As papilas fungiformes, que recebem este nome em função da sua forma semelhante a um cogumelo, são menos freqüentes e estão espalhadas por entre as papilas filiformes. Por fim, as papilas circunvaladas têm a forma achatada e são circundadas por um profundo sulco. Estas papilas se apresentam em número médio de 12, ficam dispostas em V, formando o V lingual. Estas papilas apresentam um grande número de corpúsculos gustativos, estruturas responsáveis pela sensação de gosto.  Além da língua, devemos descrever a estrutura dos dentes. Cada dente é formado por uma porção externa -  a coroa e por uma porção dentro do osso alveolar, a raiz.  O dente é formado por 2 partes calcificadas: a dentina e o esmalte, e uma cavidade, a cavidade ou câmara pulpar. A dentina é formada por uma porção mineral calcificada, mais dura que o osso, e uma porção orgânica sintetizada pelos odontoblastos, constituída por glicoproteínas e colágeno tipo I. Os odontoblastos depositam a dentina e formam canalículos ocupados por seus prolongamentos citoplasmáticos, as fibras de Tomes. O esmalte é a estrutura mais dura do corpo humano, apresentado até 97% de fosfato de cálcio (sob a forma de cristais de hidroxiapatita) e apenas 3% de água e matriz orgânica. O esmalte é depositado por células chamadas de ameloblastos, as quais não persistem após a erupção do dente. A polpa dentária ocupa a cavidade pulpar e é formada por tecido conjuntivo frouxo, ricamente inervado e vascularizado. Os dentes se fixam aos ossos mandibular ou maxilar pelas estruturas que formam o periodonto. Estas estruturas são: o cemento, que cobre a dentina, e tem característica semelhante ao osso, pelos ligamentos periodontais, formados por tecido conjuntivo denso, que une o cemento ao osso alveolar, e o próprio osso alveolar, que é a porção do osso mandibular ou maxilar em contato com o ligamento periodontal, formado por osso imaturo.
     O tubo digestivo, do esôfago ao ânus apresenta uma organização geral, a qual didaticamente, está subdividida em mucosa, submucosa, muscular e serosa. A mucosa é formada pelo epitélio e pela lâmina própria, e é separada da submucosa pela muscular da mucosa. A submucosa é constituída por tecido conjuntivo moderadamente denso, rico em vasos sanguíneos e contendo o plexo nervoso de Meissner. A camada muscular é constituída por fibras musculares lisas em 2 camadas, uma circular interna e uma longitudinal externa. Entre as 2 camadas musculares se observa o plexo nervoso mioentérico. Por fim a serosa, uma delgada camada de tecido conjuntivo frouxo revestido por mesotélio, que se constitui de epitélio pavimentoso simples.
    O esôfago é um tubo muscular que carreia o alimento da cavidade oral para o estômago. Sua mucosa é formada por epitélio estratificado pavimentoso apoiado numa lâmina própria, seguida de uma submucosa com glândulas mucosas. A camada muscular é formada por músculo estriado na porção superior, misto na porção medial e liso na porção terminal. Externamente o esôfago é revestido em sua maior parte por adventícia, uma camada de tecido conjuntivo frouxo contínua com os órgãos adjacentes. Após passar pelo esôfago, o alimento segue para o estômago, onde sobre a ação de enzimas e de um pH baixo, continua a digestão dos alimentos. Observa-se no estômago regiões com características histológicas diferentes. A sua porção inicial, contínua com o esôfago, é chamada de cárdia, e apresenta revestimento epitelial formado por células cilíndricas mucosecretoras. A mucosa apresenta invaginações, as fossetas gástricas e glândulas que se abrem no fundo destas, as glândulas gástricas.  A região cárdia apresenta glândulas tubulosas produtoras de muco. O fundo e o corpo, que constituem a maior parte do estômago, apresentam fossetas e glândulas gástricas características. As glândulas são formadas por diferentes tipos celulares: células fonte, células parietais ou oxínticas, secretoras de ácido clorídrico, células mucosas do colo e células zimogênicas ou principais, produtoras de pepsinogênio. A região pilórica apresenta fossetas gástricas muito profundas, nas quais se abrem glândulas tubulosas mucosecretoras curtas. Abaixo da mucosa observa-se uma lâmina própria de conjuntivo frouxo, uma submucosa, três camadas musculares formadas por uma faixa longitudinal externa, uma circular média e uma camada oblíqua interna. Externamente observa-se uma serosa. Após o estômago, o alimento segue para o intestino delgado, onde ocorrem as etapas finais da digestão.
    O intestino delgado apresenta várias estruturas que atuam em conjunto para aumentar a área de absorção de alimentos. Observando-se a olho nu é possível identificar uma série de dobras da mucosa e da submucosa, conhecidas como plicae circularis. Em um nível microscópico inferior, observam-se pequenos vilos, dobras da mucosa com a forma de dedos. Em nível celular, a superfície apical das células intestinais apresenta microvilos, os quais também são fundamentais para o aumento da área de absorção. Na base das vilosidades intestinais, encontramos glândulas intestinais ou de Lieberkühn. Além das células intestinais com microvilos, observamos na mucosa intestinal, células caliciformes mucosecretoras. Nas glândulas intestinais, observam-se ainda células de Paneth, produtoras de lisozima, células enteroendócrinas, produtoras de hormônios polipeptídicos, além de células M, apresentadoras de antígenos. O epitélio intestinal apóia-se sobre uma lâmina própria de conjuntivo frouxo e uma submucosa que no duodeno apresenta glândulas duodenais ou de Brünner. A submucosa intestinal apresenta grande quantidade de linfócitos, que no íleo se agrupam formando nódulos, as placas de Peyer.  A camada muscular do intestino é formada por uma camada circular interna e uma camada longitudinal externa. Com exceção de pequena porção do duodeno, o intestino delgado é envolvido externamente por uma serosa.
     O intestino grosso é a porção final do tubo digestivo, e tem como funções absorver a maior parte da água e dois sais ainda remanescentes no bolo alimentar e transformá-lo nas fezes. A mucosa do intestino grosso é formada por uma camada de epitélio cilíndrico simples rico em células caliciformes, sem vilos e com glândulas intestinais (Lieberkühn) longas. A lâmina própria é rica em linfócitos e nódulos linfáticos, que muitas vezes atravessam a muscular da mucosa e invadem a submucosa. A camada muscular é composta por uma camada circular interna e três faixas isoladas de musculatura longitudinal externa, conhecidas como tênias do colo. Nas porções terminais do tubo no ânus, o epitélio cilíndrico simples é gradualmente substituído por epitélio estratificado pavimentoso.
     As glândulas anexas ao tubo digestivo são: glândulas salivares, fígado e pâncreas. As glândulas salivares estão distribuídas em glândulas menores espalhadas pela mucosa da cavidade oral e as glândulas salivares maiores: parótidas, submandibulares e sublinguais. As glândulas maiores são revestidas por cápsula de tecido conjuntivo rico em fibras colágenas e septos que as dividem em lóbulos. Cada lóbulo apresenta um certo número de unidades secretoras que são somente do tipo seroso na parótida, ácinos serosos, mucosos e mistos (semi-luas serosas em ácinos mucosos) na glândula submandibular e somente por ácinos mucosos e mistos  na glândula sublingual. Além das porções secretoras, as glândulas apresentam os ductos, que são subdivididos em intercalares, estriados e excretores.
    Mais abaixo no tubo digestivo deságua a secreção do Pâncreas, órgão constituído por uma porção exócrina e uma porção endócrina. A porção exócrina do pâncreas é constituída por ácinos serosos, com células ricas em grânulos de zimogênio, responsáveis pela produção de várias enzimas digestivas. A primeira vista o Pâncreas pode ser confundido com a glândula parótida. As diferenças mais marcantes são a presença de septos mais finos, sem células adiposas no primeiro, além da presença das ilhotas de Langerhans, do pâncreas endócrino.
     O Fígado é um órgão de grande importância no organismo, pois além de sua função como glândula exócrina digestiva produzindo a bile, em função de sua posição, recebendo sangue vindo do intestino pela veia porta, metaboliza e acumula sustâncias fundamentais para o organismo. Os hepatócitos formam placas anastomosadas de posicionamento radial, organizadas em lóbulos hepáticos. No centro de cada lóbulo se identifica uma veia centro-lobular que junto com outras veias centro-lobulares formaram a veia hepática. Em certas regiões entre os lóbulos verifica-se um espaço onde localizam-se uma vênula, ramo da veia porta, uma arteríola, ramo da artéria hepática, um ducto biliar e vasos linfáticos. Este espaço recebeu o nome de espaço Porta.  Entre as placas de hepatócitos localizam-se sinusoides hepáticos, que além das células endoteliais, apresentam diversos macrófagos, chamados aqui de células de Kupffer. Existe um pequeno espaço que separa os sinusoides dos hepatócitos, o qual é sustentado por fibras reticulares e recebe o nome de espaço de Disse. As células hepáticas são poliédricas, mantendo contato com o espaço de Disse, com outras células através de junções e/ou criando um canalículo limitado pelas próprias membranas plasmáticas das células adjacentes por onde passa a bile produzida pelos próprios hepatócitos. Este canalículo é conhecido como canalículo biliar. O movimento da bile do canalículo ocorre em direção ao espaço Porta, em direção contrária aquele do sangue que banha os hepatócitos, que após ser misturado com sangue arterial da arteríola e venoso da vênula no espaço porta, se desloca em direção a veia centro-lobular. A bile produzida no fígado fica armazenada e é concentrada na vesícula biliar. A vesícula é um órgão oco, localizado na base inferior do fígado, constituído por uma mucosa de epitélio prismático simples e lâmina própria de conjuntivo frouxo. Abaixo da mucosa se localiza uma camada de músculo liso e outra espessa de conjuntivo perimuscular, seguido por uma adventícia.
 


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